Marcel Giró


Exposições

Fotografia Moderna

Luciana Brito / Galeria
São Paulo. 29/6 - 25/8

 A ideia de construção como metáfora da modernidade


A fotografia moderna no Brasil manifestou-se de maneira ampla e diversificada. Seja no fotojornalismo, na fotografia de arquitetura, no fotoclubismo, na produção documental, ou mesmo na moda e na publicidade, o que se observa são diferentes modos de responder a um mundo em franca transformação. Os nove fotógrafos reunidos nesta mostra - Ademar Manarini, Eduardo Salvatore, Gaspar Gasparian, Geraldo de Barros, Gertrudes Altschul, Paulo Pires, Marcel Giró, Mario Fiori e Thomaz Farkas -, estiveram, em maior ou menor grau, vinculados ao universo dos fotoclubes e tinham como propósito investigar o potencial artístico da fotografia, libertos das amarras da profissionalização.


De origens e formações distintas, sendo alguns pertencentes a famílias de imigrantes, os fotógrafos aqui representados produziram suas imagens sob o impacto do processo de modernização que, a partir de meados da década de 1940, reconfigurou a face visível das grandes cidades brasileiras. Em geral, intentaram fazer da fotografia uma ferramenta capaz de dar vazão a novos modos de ver e vivenciar experiências urbanas, até então, inéditas. Tais intenções materializaramse por meio da fotografia direta, mas também de experimentações, tais como fotogramas, montagens e solarizações. Enquanto alguns limitaram-se a exercícios de caráter formalista, outros buscaram alargar o entendimento da fotografia para além do repertório característico do fotoclubismo e do que se convencionou como sendo próprio do fotográfico.


Em que pesem as diferenças individuais entre os fotógrafos a ideia de construção parece unir todas as imagens aqui apresentadas. O verbo “construir”, como explicam os dicionários, é sinônimo de edificar, erigir e arquitetar. Tais ações se materializam de diferentes modos nessas fotografias, que ora resultam de um olhar rigoroso sobre o mundo, ora são frutos de um embate criativo com a matéria, por meio das manipulações. Nãopor acaso a fotografia e a arquitetura foram manifestações do modernismo que estiveram em perfeita sintonia no Brasil no período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Construir novas formas arquitetônicas e construir uma nova linguagem fotográfica tinham em comum o mesmo ideal de construção de um país moderno, como fica evidente na foto “Canteiro de obras”, que Thomaz Farkas produziu durante a construção de Brasília, em 1958.


Pouco mais de sessenta anos depois, esta exposição apresenta a fotografia moderna brasileira, de viés fotoclubista, em diálogo com o belo espaço projetado pelo arquiteto Rino Levi no final da década de 1950, tombado pelo patrimônio municipal e estadual de São Paulo. Se a força desse encontro nos remete a um momento especial da história do país, nos revela também que o motivo de nosso encantamento diante dessas imagens deve-se, em grande parte, ao fato de  que elas guardam a promessa de um futuro repleto de potencialidades. Hoje, porém, talvez mais do que nunca, elas provoquem em nós uma estranha nostalgia por aquilo que não fomos capazes de nos tornar.


Helouise Costa


 


Fotografia Moderna 1940 - 1960


Pela primeira vez, reúne-se em um casa modernista em São Paulo – a residência Castor Delgado Perez, de Rino Levi, sede da Luciana Brito Galeria – um conjunto expressivo de fotografias de Geraldo de Barros, Gertrudes Altschul, Thomaz Farkas, Ademar Manarini, Paulo Pires, Marcel Giró, Gaspar Gasparian, Eduardo Salvatore e Mario Fiori, representantes da vertente moderna da fotografia brasileira, linguagem que mudou radicalmente o conceito do que é arte no universo da fotografia e das artes visuais. Realizada em parceria com Isabel Amado, a exposição Fotografia Moderna 1940 – 1960 tem abertura em 29 de junho e pode ser visitada até 25 de agosto.


Dado o interesse que esse período da produção fotográfica nacional tem ganhado na última década, Fotografia Moderna 1940 – 1960 propõe-se, com suas mais de 90 obras, a reunir fotos inéditas e outras que ainda não circularam ostensivamente e que, portanto, não são tão conhecidas do público. Com destaque para Geraldo de Barros, precursor do Concretismo no Brasil e cofundador do Grupo Ruptura, e Gertrudes Altschul, uma das poucas mulheres a ter a relevância de sua produção reconhecida neste período, a mostra espera contribuir, assim, para a ampliação do repertório visual que vem sendo construído em torno desses artistas.


A fotografia moderna no Brasil aliou o desejo de inventividade e interpretação subjetiva do mundo no contexto do pós-guerra às especificidades dos movimentos de industrialização e urbanização brasileiros. Impulsionado pela fundação do Fotocineclube Bandeirantes, em 1939, o cenário da fotografia nacional observou uma efervescência única a partir da década de 1940, quando seus representantes se afastaram do pictorialismo academicista e abriram uma discussão sobre a essência do fazer fotográfico e sua autonomia enquanto forma artística em si e por si.


São justamente os caminhos percorridos na busca por essa nova estética capaz de conferir à fotografia o estatuto de arte que podem ser vistos em Fotografia Moderna 1940 – 1960. Por um lado, essa investigação se deu no abandono de temas clássicos e pelo interesse pela abstração, pelo contrate entre luz e sombra, por cenários cosmopolitas e pela quebra de regras de perspectiva e composição. Em âmbito complementar, esses fotógrafos inauguraram uma visualidade marcada pela investigação dos recursos técnicos inerentes à própria mídia por meio de experiências laboratoriais e intervenções diretas no processo fotográfico como a múltipla exposição ou recortes de uma mesma chapa, a realização de fotogramas (quando os objetos eram colocados diretamente embaixo do ampliador, gerando fotografias sem a mediação de uma máquina fotográfica), superposições e desenhos executados diretamente no negativo.


A fim de apresentar a autonomia do corpo de trabalho dos fotógrafos participantes – cujas obras integram o acervo de importantes instituições, como MoMA e TATE Modern – sem deixar de lado seus possíveis diálogos e pontos de contato, a expografia de Fotografia Moderna 1940 – 1960 divide-se em dois momentos. Enquanto a Sala Rino Levi da Luciana Brito Galeria é ocupada por ampliações vintage distribuídas de maneira tradicional, agrupadas por autor, no Anexo encontram-se as edições contemporâneas, reunidas por afinidades de assuntos, linguagens e temas.


Assim, por exemplo, algumas das Fotoformas mais ilustres de Geraldo de Barros podem ser vistas ao lado de suas ampliações de desenhos sobre negativo com ponta-seca e nanquim, ou, ainda, as fachadas que beiram a abstração de Thomaz Farkas são acompanhadas não apenas por seu trabalho de interesse documental como também por experimentações surrealistas. De forma semelhante, fotogramas, estudos de composição e até naturezas-mortas vintage, além de ampliações contemporâneas de seus estudos arquitetônicos, representam a ampla gama do corpo de trabalho de Gertrudes Altschul na mostra.


Luciana Brito / Galeria


© José Pellegrini